"A disparidade de recursos financeiros entre candidatos ligados a igrejas e os demais gera debate sobre equidade nas eleições." No...
"A disparidade de recursos financeiros entre candidatos ligados a igrejas e os demais gera debate sobre equidade nas eleições."
Nos últimos tempos, a discussão em torno da cobrança de impostos sobre a arrecadação das igrejas e sua ativa participação política, especialmente as neopentecostais, tem gerado polêmicas no Brasil. O artigo aborda a complexa relação entre igreja e política, destacando a isenção de impostos dessas instituições e seu impacto no desequilíbrio financeiro entre candidatos. A análise aponta para a necessidade de revisão das regras, propondo uma norma que restrinja entidades com isenção de impostos de participar do cenário político, uma medida que já existe nos Estados Unidos. Contudo, destaca a importância de uma abordagem educacional para desconstruir percepções distorcidas e promover uma participação política mais transparente e ética.
Perseguidos e Injustiçados - Charge de Renato Aroeira |
Por Fernando Horta*
Nos últimos tempos, tem-se gerado uma grande confusão no Brasil em relação à cobrança de impostos sobre a arrecadação das igrejas e a sua participação política. Especialmente as neopentecostais, que são amplamente conhecidas pelo seu lucro, têm sido alvo de críticas, com alguns argumentando que elas não são verdadeiramente igrejas, mas sim partidos políticos disfarçados.
A relação entre igreja e política nunca foi algo novo, e ao longo da história mundial, elas sempre estiveram interligadas. Embora em determinado momento a Igreja Católica tenha buscado se afastar da política mundana, essa decisão não foi seguida por outras denominações religiosas. Basta observar o papel desempenhado por diferentes igrejas na consolidação dos estados nacionais em diversos países, como Rússia e Israel.
No contexto brasileiro, essa questão assume contornos mais complexos, pois as igrejas gozam de isenção de impostos e, ao mesmo tempo, participam ativamente do processo eleitoral, indicando candidatos. Isso gera uma situação de injustiça, pois os candidatos ligados a essas igrejas têm acesso a recursos financeiros muito superiores aos demais concorrentes.
Enquanto um candidato filiado a um partido político tradicional precisa limitar seus recursos às definições estabelecidas pela sociedade e aos fundos eleitorais disponíveis, aqueles associados a igrejas têm acesso direto aos recursos provenientes da isenção de impostos que recebem anualmente. Essa disparidade resulta em um desequilíbrio significativo, em que candidatos religiosos possuem cinco, seis ou até mesmo sete vezes mais verba para suas campanhas eleitorais.
Essa situação levanta questionamentos sobre a equidade e a necessidade de revisão das regras. É fundamental estabelecer uma norma que determine que entidades com isenção de impostos não possam participar do cenário político. Vale ressaltar que essa não é uma ideia nova, pois nos Estados Unidos essa regra já vigora há muitos anos e tem mantido os grupos religiosos evangélicos fora do contexto político.
No entanto, é preciso reconhecer que, ao longo dos anos, as igrejas evangélicas brasileiras conseguiram construir uma sólida argumentação política. Elas sustentam que os valores da direita são universais e aceitos por todos, enquanto os valores da esquerda são restritos a esse espectro político. Essa abordagem, baseada na percepção de normalidade, tem sido eficaz para atrair seguidores e obter sucesso nas urnas.
Diante desse cenário, é necessário desmontar essa visão distorcida da realidade. Isso só será possível por meio de um trabalho de base que envolva educação e cultura. É fundamental investir na retomada das atividades do Ministério da Educação (MEC) e fortalecer a educação básica, além de promover uma abordagem diferenciada por meio dos partidos políticos, mas que também valorize a educação política.
Infelizmente, até o momento, não foi possível alcançar essas metas. Contudo, é essencial persistir na luta para que a educação e a conscientização sejam prioridades, a fim de desfazer os argumentos simplistas e distorcidos que têm influenciado a participação política. Somente assim será possível construir uma sociedade mais justa e equilibrada, na qual a política e as igrejas possam coexistir de forma transparente e ética.
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