O corredor onde vive Grudzinskas – que guarda uma metralhadora em casa – é tido por muitos analistas como o “calcanhar de Aquiles” da Aliança Ocidental. Há temores de que, no caso de um êxito russo na Ucrânia, Moscou avançaria por ali logo em seguida, rumando aos países bálticos, mais precisamente Letônia e Estônia.
Grudzinskas faz parte da União dos Fuzileiros da Lituânia, uma milícia voluntária de 103 anos de história de atuação em um dos lugares mais perigosos do mundo. Seus combatentes podem ser vistos como a primeira linha de defesa no caso de uma hipotética ação do exército de Vladimir Putin rumo ao território protegido pela Otan, já que há tropas estacionadas perto dali em Kaliningrado, enclave russo no Mar Báltico e posto militar de vanguarda na Europa.
“Claro, eu estou com medo. Como eu poderia não estar?”, disse Grudzinskas, que entrou na milícia após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014. “Minha família está aqui. Construí esta casa com minhas próprias mãos”.
Segundo Egidijus Papeckys, comandante do 4º Comando Regional dos Fuzileiros, a milícia aumentou seu contingente desde o início do conflito em fevereiro. Já são 12 mil membros voluntários. “E o número está aumentando dez vezes a cada mês”, disse ele. Os armamentos, que incluem fuzis de assalto, revólveres e lançadores de granadas, vêm de doações das forças armadas lituanas e de financiamento coletivo.
Há cicatrizes profundas na relação entre Vilnius e Moscou. A ocupação da Lituânia pelos soviéticos durou exatos 50 anos, entre 1940 e 1990. Somente no primeiro ano, calcula-se que 280 mil lituanos foram deportados da União Soviética, sendo que apenas um terço conseguiu voltar para casa. Nos Bálcãs, a ação é classificada como “genocídio”.
Defesa aos bálticos
Buscando ampliar a defesa dos Estados bálticos, a Otan reformulou radicalmente seu planejamento de defesa na região. Durante uma cúpula em Madrid nesta semana, a aliança anunciou que aumentaria sua presença “o suficiente para repelir qualquer ataque em tempo real”, em vez de enviar tropas para uma eventual recaptura de território.
Porém, o vice-ministro da Defesa da Lituânia, Margiris Abukevicius, admite que ainda pode demorar dois anos para a presença efetiva dessas tropas na região. Segundo ele, no momento há um entendimento de que as capacidades militares precisam de uma “atualização substancial em torno de Suwalki e em outros lugares”.
“Eu realmente espero que a cúpula desta semana dê uma resposta muito forte e uma direção muito clara para onde a adaptação de longo prazo da Otan deve seguir”, disse Abukevicius.
Exercícios militares no corredor Suwalki (Foto: U.S. Army Europe/Flickr)
Por que isso importa?
Desde o início do conflito, a Lituânia tem sido uma das nações que mais pressiona por sanções e outras políticas punitivas dirigidas à Rússia.
Como resultado da crise diplomática, a Lituânia anunciou em abril a expulsão do embaixador russo em Vilnius. Naquele mesmo mês, anunciou o corte de todas as importações de gás russo e estimulou outros Estados-Membros da UE a seguirem o exemplo.
Posteriormente, em maio, os parlamentares lituanos aprovaram por unanimidade uma resolução que declara a Rússia como “Estado terrorista” e classifica as ações de Moscou na Ucrânia como genocídio.
Na semana passada, a Rússia ameaçou impor medidas punitivas à Lituânia após o país báltico bloquear alguns embarques ferroviários para Kaliningrado, impedindo a entrada de mercadorias no enclave russo no Mar Báltico. O episódio jogou mais lenha na fogueira da já conturbada relação entre os dois países.
FONTE: AREFERENCIA.COM | EDIÇÃO: REDAÇÃO GRUPO M4
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