Como parte desse processo de “russificação” do ensino, professores ucranianos teriam sido enviados a Moscou para um processo de “certificação”. Quem afirma é Petro Andryushchenko, assessor do prefeito de Mairupol, cidade no leste ucraniano, que se manifestou através do aplicativo de mensagens Telegram.
Por sua vez, Maksym Borodin, membro do Conselho Municipal da mesma cidade, disse que o programa educacional de Mariupol é focado na “propaganda” russa. Nas palavras dele, o objetivo é ensinar as crianças a “odiar a Ucrânia”.
Borodin deu um exemplo prático: “Nas chamadas lições de ‘história’, eles dizem que a Ucrânia é a culpada por iniciar a guerra atual e negam que a Rússia tenha atacado a Ucrânia e Mariupol e que tenha criado todo esse horror”.
Liliya Hrynevych, ex-ministra ucraniana de Educação e Ciência, reforça a denúncia de que a propaganda russa é imposta não apenas às crianças nas escolas, mas à população civil em geral nas áreas ocupadas. Uma das formas de Moscou fazer isso, diz ela, foi bloquear os serviços internet e telefonia provenientes da Ucrânia.
Sem os provedores locais, resta à população utilizar os serviços russos, estes sob forte censura estatal. “Eles (os civis ucranianos) muitas vezes não têm acesso à internet e assistem apenas à programação russa na televisão”, disse Hrynevych. “As crianças também ouvem tudo isso. E então vão para a escola, onde os ocupantes poluem completamente o espaço educacional com suas narrativas”.
A ex-ministra afirma que, ideologicamente, a meta da Rússia “destruir a identidade nacional ucraniana”. E justifica: “É por isso que eles imediatamente começaram a queimar livros sobre a história ucraniana. É por isso que eles começaram a interferir no sistema educacional e a destruir nossas escolas”.
Segundo autoridades ucranianas, a iniciativa é parte de um projeto maior de Moscou que visa a anexar o sul da Ucrânia, de forma a criar uma conexão geográfica entre a Crimeia e Donbass, regiões ocupadas pelas forças russas desde 2014.
Por que isso importa?
A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho, no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano. Esses conflitos foram usados por Vladimir Putin como argumento para justificar a invasão integral, classificada por ele como uma “operação militar especial”.
“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país. Segundo Putin, a invasão serviria para libertar os cidadãos de etnia russa que vivem na Ucrânia sob opressão de Kiev.
No início da ofensiva, o objetivo das forças russas era dominar Kiev, alvo de constantes bombardeios. Entretanto, diante da inesperada resistência ucraniana, a Rússia foi forçada a mudar sua estratégia. As tropas, então, começaram a se afastar de Kiev e a se concentrar mais no leste ucraniano, a fim de tentar assumir definitivamente o controle de Donbass e de outros locais estratégicos naquela região. O sul ucraniano também entrou na mira, com diversas áreas agora ocupadas por Moscou.
Em meio ao conflito, o governo da Ucrânia e as nações ocidentais passaram a acusar a Rússia de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, dando início a investigações de crimes de guerra ou contra a humanidade cometidos pelos soldados do Kremlin.
O episódio que mais pesou para as acusações foi o massacre de Bucha, cidade ucraniana em cujas ruas foram encontrados dezenas de corpos após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.
Fora do campo de batalha, a Rússia tem sido alvo de todo tipo de sanções. As esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais já começaram a sufocar a economia russa, e o país tem se tornado um pária global. Desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro,
quase mil empresas ocidentais deixaram de operar na Rússia, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral.
FONTE: AREFERENCIA.COM | EDIÇÃO: REDAÇÃO GRUPO M4
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