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TBR | Progresso de nações ex-união soviética incomoda a Rússia e a deixa vulnerável ao Ocidente

A Rússia se sente provocada pela democracia e pela perda de seu império Artigo analisa como o sucesso de nações vizinhas na construção de so...

A Rússia se sente provocada pela democracia e pela perda de seu império
Artigo analisa como o sucesso de nações vizinhas na construção de sociedades democráticas e livres incomoda Moscou

Qual é a diferença entre o alargamento da Otan e a expansão da Rússia?

Enquanto a primeira ocorre em termos voluntários e com o acordo de seus membros em prol da defesa dos países democráticos, a segunda mostra uma potência nuclear autoritária nas garras da nostalgia de seu império tentando estender sua influência por meio de uma ruptura brutal e de uma interpretação do direito internacional que a autobeneficia.

Em tudo isso, a Rússia não foi provocada pelo alargamento da Otan, que criou uma vizinhança pacífica e estável em torno das fronteiras russas, mas sim pela dor de perder um império totalitário e testemunhar o sucesso de seus antigos vassalos na construção da democracia e sociedades livres. E isso representa uma ameaça existencial ao regime autoritário na Rússia.

Alguns dias atrás, entre reuniões em Moscou, tirei um momento para colocar flores no local onde um dos democratas mais conhecidos da Rússia moderna – Boris Nemtsov – foi morto na ponte Bolshoi Moskvoretsky, à sombra do Kremlin.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Moscou, abril de 2020 (Foto: Kremlin)

Boris era um bom amigo meu e sempre tivemos discussões fascinantes sobre o presente e o futuro da Rússia. Sua ausência é profundamente sentida na Rússia hoje. As autoridades estão fazendo todo o possível para apagar Nemtsov da memória popular porque um país com tendências totalitárias não pode permitir a existência de liberdade de expressão ou debates sobre caminhos alternativos para o desenvolvimento entre seus cidadãos.

Ao longo das décadas, a Rússia pintou os países ocidentais democráticos como figuras inimigas assustadoras tentando obter acesso às suas riquezas e destruir sua “civilização milenar”.

As pessoas ouvem desde a infância que os Estados Unidos e a Otan estão tentando cercar a Rússia por todos os lados e aniquilar sua nacionalidade. Essa mentira foi usada para manipular milhões em casa e no exterior para justificar a política externa agressiva da Rússia em relação ao Ocidente democrático.

Os paralelos históricos nos dão o que pensar. Assim como na década de 1930, a Rússia chegou à conclusão de que a situação na Europa está madura para mudar o status quo atual.

Além de restaurar seu império, a Rússia totalitária sonha impor suas regras ao Ocidente democrático, estabelecer novas zonas de influência e marginalizar o papel dos Estados Unidos na política global. Para isso, nem mesmo o botão nuclear está fora dos limites, pelo menos em palavras.

Uma pergunta tem sido feita repetidamente ultimamente: por que a Rússia está aumentando a tensão agora?

O ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, disse em uma entrevista coletiva no ano passado que é tudo culpa do Ocidente, que se propôs a destruir a arquitetura das relações internacionais com base na Carta das Nações Unidas, sem levar em consideração os temores de segurança da Rússia. ou honrar suas próprias promessas.

Lavrov reiterou a narrativa do Kremlin de como a Otan havia quebrado sua promessa e se ampliado, e como o “golpe” na Ucrânia era uma ameaça à segurança da Rússia. Como esperado, ele não disse uma palavra sobre a própria agressividade da Rússia, usando a força para mover fronteiras, ou neutralizando as instituições democráticas internas e desmantelando a sociedade civil, o que pressionou os vizinhos democráticos da Rússia a buscar uma garantia de segurança ao ingressar na Otan.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, em novembro de 2018 (Foto: Divulgação)

Aqueles que testemunharam o avanço do vagão de guerra russo com seus próprios olhos provavelmente estão cientes de que ele não pode ser interrompido apenas por palavras gentis.

Como jovem jornalista cobrindo a primeira guerra chechena de 1994-1996, aprendi do que as autoridades russas eram capazes. O bombardeio de Grozny matou milhares e milhares de cidadãos. Para que? Para impedir que o império se desintegre e que o livre arbítrio do povo se torne a norma.

Assim como a destruição dos chechenos se beneficiou da campanha de desumanização em massa de toda a nação naquela época, a propaganda atual está tentando obliterar a independência e a nacionalidade ucranianas. O apetite do Kremlin só cresceu em 30 anos e não foi frustrado pela diplomacia ocidental, que se baseia na boa vontade e na esperança de uma coexistência pacífica.

Em tudo isso, o alargamento da Otan não foi dirigido contra a Rússia, mas contra ameaças de usar força total e nos cercar por todos os lados. A sociedade russa foi refém de sua própria história e não conseguiu se libertar – por razões objetivas ou subjetivas – das garras repressivas do regime autoritário profundamente enraizado.

Como a intenção do Kremlin de destruir uma Ucrânia democrática é apenas uma parte de sua busca para erodir a arquitetura de segurança europeia, torna-se particularmente difícil encontrar um modus vivendi um tanto sustentável nas relações entre a Rússia e o Ocidente.

Os líderes da Rússia parecem preparados para aumentar as tensões ao máximo. Isso é feito por meio da guerra e do uso da força, bem como permitindo uma retórica pública depreciativa em relação aos parceiros na diplomacia.

O que é para ser feito? As autoridades russas estão plenamente conscientes de que a Otan não é uma ameaça. Assim como nenhum país vizinho democrático é uma ameaça à segurança ou integridade territorial da Rússia.

Absolutamente nenhum país pode ter o direito à hegemonia na Europa, nem o veto sobre como a segurança do continente é moldada. A arquitetura de segurança europeia resistiu bem ao teste do tempo e não há boas razões para derrubá-la. Em vez disso, sempre há oportunidades para fortalecê-la.

Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site independente The Moscow Times

FONTE: AREFERENCIA.COM EDIÇÃO: REDAÇÃO GRUPO M4

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