Diante de um cenário de incertezas sobre as ações futuras dos combatentes islâmicos, Voronkov instou os Estados-Membros a seguirem coordenando operações militares contraterroristas, além de somarem esforços na prevenção à propagação do terrorismo.
O embaixador Jeffrey DeLaurentis, consultor sênior para Assuntos Políticos Especiais da Missão dos EUA na ONU, disse que Washington está à disposição para auxiliar na
repatriação de estrangeiros em território sírio.
“Até o momento, repatriamos 30 cidadãos americanos do nordeste da Síria, sendo 13 adultos e 17 crianças. Os Estados Unidos estão prontos para apoiar qualquer Estado-Membro que deseje trazer seus cidadão para casa”, disse.
Extremismo na África
DeLaurentis chamou a atenção para facções do EI no continente africano, em especial o ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental).
“Afiliados do EI e da Al-Qaeda se espalharam em bolsões por toda a África, se inserindo em conflitos de longa data e proporcionando a eles nova volatilidade e letalidade. O ISWAP merece um foco particular, pois o grupo se tornou o maior numericamente e um dos mais letais afiliados do EI fora da região central. Os Estados Unidos continuam a fornecer aos nossos parceiros africanos assistência crítica de contraterrorismo para interromper tais ações”, garantiu.
Já James Roscoe, diplomata britânico nas Nações Unidas, disse que a comunidade internacional deve manter-se firme na sua determinação de combater e derrotar o EI.
“O Reino Unido é um membro comprometido da Coalizão Global contra o EI e co-lidera seus esforços de contrapropaganda. Além disso, fornecemos apoio humanitário e de estabilização significativo às áreas libertadas do Iraque e da Síria”, relatou.
Segundo Weixiong Chen, diretor-executivo do Comitê de Combate ao Terrorismo, desde 2020, a ameaça terrorista cruzou-se com muitos desafios relacionados à pandemia do Covid-19, com o EI e outros grupos terroristas buscando explorar falhas decorrentes de restrições sociais, tensões políticas e crises econômicas. “Muitos Estados foram forçados a desviar recursos de combate ao terrorismo para esforços relacionados à pandemia, enquanto os terroristas se tornaram ainda mais aptos a usar as mídias sociais e plataformas online para perseguir seus objetivos”, disse ele.
Ao término da reunião, a Coalizão Global para Derrotar o EI
emitiu uma declaração que reforça o comprometimento da aliança em combater o extremismo.
“A derrota duradoura do EI na Síria e no Iraque continua sendo a principal prioridade da Coalizão. Continuaremos a combater as filiais e redes globais do EI e a levar seus membros à Justiça. Usaremos todas as ferramentas disponíveis na busca desse objetivo e não cederemos até que o EI não constitua mais uma ameaça”.
Por que isso importa?
Nos últimos anos, o EI se enfraqueceu financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.
Em janeiro deste ano, o grupo sofreu mais um duro golpe quando o exército norte-americano anunciou ter matado Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção. Durante uma operação antiterrorismo dos EUA na Síria, ele explodiu uma bomba que carregava junto ao corpo, matando também mulheres e crianças que o acompanhavam. O evento foi semelhante a outro, em 2019, que terminou com a morte do líder anterior da organização extremista, Abu Bakr al-Baghdadi.
De acordo com um
relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) publicado em fevereiro de 2022, as perdas territoriais e de pessoal transformaram o EI, que antes controlava boas partes da Síria e do Iraque, em “uma insurgência principalmente rural, resistindo à pressão antiterrorista sustentada pelas forças da região”.
A pandemia também continua a ser um desafio, pois impede as “viagens transfronteiriças, diminuindo as ameaças decorrentes de fluxos de combatentes em zonas de conflito e viagens terroristas mais amplas em zonas de não conflito”. Por outro lado, a estagnação do terrorismo em meio à onda de Covid-19 aumenta as “oportunidades de recrutamento e radicalização online”, criando a perspectiva de uma retomada futura das ações extremistas globais.
Outro risco que o grupo oferece é a presença de milhares de ex-combatentes em prisões e campos de deslocados em várias partes do mundo. Devolvê-los a seus países de origem e processá-los judicialmente é um desafio para os Estados-Membros da ONU, e os estabelecimentos que abrigam os extremistas são um potencial alvo de ataques para o EI. Exatamente como ocorreu na prisão de Ghwayran, na cidade de al-Hasakah, na Síria, invadida pelo grupo com a meta de libertar seguidores.
“Devido à capacidade severamente degradada, a sobrevivência futura do EI depende de sua capacidade de reabastecer as fileiras por meio de tentativas mal concebidas, como o ataque a Hasakah”, afirmou o major-general norte-americano
John W. Brennan Jr., comandante da força de coalização liderada pelos EUA para combater o EI. Segundo ele, a ação na prisão síria gerou enorme prejuízo ao grupo terrorista, que “sentenciou à morte muitos dos seus que participaram deste ataque”.
Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar sua retomada de força. No Sudeste Asiático, ao contrário, os países da região têm obtido sucesso significativo em interromper o terrorismo de facções afiliadas.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a
PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”.
FONTE: AREFERENCIA.COM | EDIÇÃO: REDAÇÃO GRUPO M4
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