Taiwan não recebeu nada bem a aliança “sem limites” anunciada na última sexta-feira (4) por China e Rússia. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da ilha, o anúncio é “desprezível”, por ter sido feito às vésperas dos Jogos Olímpicos de Inverno Beijing 2022 e em meio à escalada de tensão sobretudo entre Moscou e Kiev, mas também entre Beijing e Taipé. As informações são da agência catari
Al Jazeera.
No embate entre China e Rússia contra os EUA, o momento do anúncio foi emblemático, horas antes da cerimônia de abertura dos Jogos, aos quais Washington anunciou um boicote diplomático em represália aos abusos dos direitos humanos atribuídos ao governo chinês.
Para Taiwan, o momento do anúncio não poderia ser pior. “É um insulto ao espírito pacífico incorporado pelos anéis olímpicos e será desprezado pelo povo de Taiwan e desprezado pelos países democráticos”, disse o Ministério das relações Exteriores taiwanês.
O comunicado contestou, ainda, a oposição chinesa às reivindicações de independência da ilha. “Isso não apenas aumenta o desgosto e aversão do povo taiwanês pela arrogância e intimidação do governo chinês, mas também mostra claramente a todos os países do mundo a face sinistra da agressão, do expansionismo e dos danos à paz do regime comunista chinês”.
A manifestação de Taiwan foi uma resposta ao anúncio de fortalecimento do laço entre Rússia e China, feito pelos presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping poucas horas antes da cerimônia de abertura dos Jogos Beijing 2022. “A amizade entre os dois Estados não tem limites, não há áreas ‘proibidas’ de cooperação”, disseram as duas superpotências em comunicado conjunto.
A aliança havia sido saudada inclusive pelo Embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, que se manifestou no Twitter ainda na sexta (4).
Beligerância
De um lado, o anúncio serviu para a Rússia manifestar apoio às reivindicações da China de que Taiwan é parte de seu território, condenando, assim, qualquer pretensão de independência da ilha. Já Beijing manifestou apoio à Moscou em sua oposição à demanda da Ucrânia para se juntar à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
A aliança surge em um momento de risco crescente de invasão russa ao território ucraniano, com cerca de cem mil soldados mobilizados atualmente na região fronteiriça. Paralelamente, existe o temor de uma ação militar contra Taiwan por parte da China, cujos jatos militares têm realizado frequentes incursões no espaço aéreo da ilha.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Relações exteriores que tratem o território como uma nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.
Diante da aproximação do governo taiwanês com os Estados Unidos, desde 2020 a China tem endurecido a retórica contra as reivindicações de independência da ilha.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como quase todos os demais países, Washington é o maior financiador internacional e principal fornecedor de armas da ilha, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.
Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra“.
A relação entre Ucrânia e Rússia, por sua vez, azedou em 2014, com a anexação da Crimeia por Moscou. Paralelamente, os russos também apoiam, desde abril daquele ano, os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev em Donbass, na região leste da Ucrânia.
O conflito armado em Donbass, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe ao governo ucraniano as forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que contam com suporte militar russo. Em meio às disputas territoriais, é crescente a ameaça de uma invasão em grande escala da Rússia à Ucrânia.
Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin e a adoção das medidas logísticas necessárias.
A inteligência da Ucrânia calcula a presença de mais de 120 mil tropas nas regiões de fronteira, enquanto especialistas calculam que sejam necessárias 175 mil para uma invasão. Já a inteligência dos EUA afirma que um eventual ataque ao país vizinho por parte da Rússia ocorreria pela Crimeia e por Belarus, onde russos e belarussos fizeram exercícios militares conjuntos em janeiro de 2022.
FONTE: AREFERENCIA.COM | EDIÇÃO: REDAÇÃO GRUPO M4
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