Foi através de sete formas peculiares que o Espírito Santo de Deus nos presenteou. E deve ser bebendo na graça desses dons que devemos bem v...
Por Aloísio Parreiras
O Espírito Santo é a Alma da Igreja, o Dom pascal por excelência, o Promotor da renovação e das mudanças, o Mestre da harmonia, a Lei espiritual que sela a nova e eterna aliança e que consagra o novo povo real e sacerdotal que é a Igreja e, por isso, podemos falar, legitimamente, da perenidade de Pentecostes, pois cabe a todos nós, fiéis cristãos, o direito, o dever e a grata alegria de professar que o Pentecostes continua na vida da Igreja, nas nossas comunidades e em nossas vidas. No meio do inverno sombrio do mundo, que muitas vezes tenta apagar a chama da nossa fé e da esperança, nós temos que ter coragem, fortaleza e ousadia para mantermos vivo, aceso e incandescente o fogo renovador de Pentecostes; afinal, "Deus não nos deu um Espírito de timidez, mas de força, de amor e de sobriedade". (2 Tm 1,7).
Contemplando, com os olhos da fé, a História da Igreja desde o dia de Pentecostes, nós adquirimos a consciência de que o Espírito Santo realiza maravilhas nas almas e nos corações de todos aqueles que são dóceis às Suas divinas inspirações. Nessa contemplação, com o coração em chamas, nós sentimos a necessidade de dar graças ao Senhor pelos prodígios que o Divino Espírito realizou nestes vinte e um séculos de cristianismo, suscitando em toda a parte um novo ardor apostólico, um esmerado empenho em amar e servir a Deus e aos irmãos com total dedicação, derramando efusivamente dons e carismas sempre novos, atestando Sua ação incessante no coração dos seres humanos.
Em nossas vidas, precisamos do contínuo auxílio do Divino Paráclito para vivermos como batizados, crismados, membros do Corpo Místico de Cristo e filhos de Deus, pois "todos aqueles que são movidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus". (Rm 8, 14). Nesse serviço a Deus e à Igreja, o Espírito Santo não deixa jamais de enriquecer o nosso testemunho com os dons espirituais e os carismas que Ele concede com generosidade à Igreja. Entre estes carismas, podemos citar o gosto pela oração, a experiência do silêncio e a generosidade em compartilhar o que temos com os pobres e os excluídos.
Por meio da docilidade, nós abrimos as portas da nossa alma ao Espírito Santo para que Ele possa derramar em nossos corações os sete preciosos dons que agem na nossa vontade e em nossa inteligência, ajudando-nos a enaltecer o louvor e a adoração a Deus. Os dons que recebemos do Paráclito não se destinam unicamente para nós, pois eles pertencem à Igreja e só permanecem quando são colocados a serviço da comunidade. Estes sete dons – sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e santo temor de Deus – são graças divinas, auxílios do Alto e, somente com nosso esforço, não podemos fazer com que eles cresçam e se desenvolvam e, por isso, necessitamos de uma ação direta e eficaz do Espírito Santo para podermos agir com perfeição cristã. Os sete dons podem ser comparados a sete velas de um barco que nos conduzem ao Porto seguro da santidade. Nesta viagem em direção à vida eterna, nesse caminho de identificação com o Cristo, o Divino Paráclito vem em auxílio da nossa fé com os dons do entendimento e da ciência. Para incrementar a nossa esperança, recebemos o dom do santo temor de Deus e, para aprimorarmos a nossa caridade para com Deus e o nosso próximo, recebemos o dom de sabedoria.
Pela adesão ao dom de sabedoria, bradamos que fomos criados para conhecer, servir e amar a Deus e, por isso, não poupamos esforços para amar a Deus acima de todas as coisas. Pelo dom do entendimento, aderimos sem reservas às verdades reveladas pelo Cristo, abraçamos a alegria do Evangelho, cumprimos os Mandamentos, vivemos as Bem-aventuranças e compreendemos que Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida. Pelo dom do conselho, o Espírito Santo nos ajuda a vislumbrar os meios oportunos para que possamos crescer e perseverar na fé e assim, um dia, galgarmos o céu, ou seja, Ele nos ajuda a trilhar o rumo certo e nos impulsiona a guiar, com bons conselhos, o nosso próximo no caminho do bem.
Pelo dom da fortaleza, Deus nos propicia a coragem necessária para enfrentarmos as tentações, as perseguições e as noites escuras que podem surgir em tempos de pandemia. O dom da ciência aperfeiçoa a nossa inteligência e nos faz perceber que todo o conhecimento vem de Deus. Esse dom nos auxilia na compreensão das Sagradas Escrituras, do Catecismo e da Doutrina Social da Igreja e nos faz perceber que, se temos talentos, capacidades, deles não devemos nos orgulhar, porque os recebemos de Deus. O dom da piedade inclina-nos para as coisas de Deus e nos ajuda a perceber os frutos salutares da oração, do silêncio, da adoração e das práticas de piedade. É esse dom que nos leva a bradar nos momentos de adoração: "Senhor, como é bom estarmos aqui!". Pelo dom do santo temor de Deus, tomamos cuidado para não entristecermos o Cristo. Desse modo, lutamos contra o pecado, o mal, o egoísmo e a indiferença e professamos: "Antes morrer do que pecar!"
Pela contínua adesão, correspondência e intimidade aos dons do Espírito Santo, crescemos na intimidade com o Cristo e reforçamos nossa pertença a Deus e à Igreja, testemunhando ao nosso próximo: O Espírito Santo "é um bom Hóspede, encontrou-nos famintos e saciou-nos, encontrou-nos sedentos e inebriou-nos". (Santo Agostinho).
Peçamos à Virgem Santa Maria, que permaneceu em oração com os Apóstolos em Pentecostes, que interceda por nós junto a Deus, concedendo-nos a graça de recebermos os dons divinos, apesar de nossa miséria, de nossa indignidade. Que Ela nos ajude na docilidade ao Divino Paráclito e na vivência cotidiana da fé, pois o nosso mundo e o nosso tempo têm grande necessidade de fiéis cristãos que, como raios de luz, luzeiros de esperança, encharcados pela chuva penetrante do Espírito, abrasados pelo fogo purificador da santidade, saibam comunicar o fascínio da Boa Nova da Salvação e a força propulsora da vida nova no Espírito Santo.
*Aloísio Parreiras é escritor e membro do Movimento de Emaús.
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